Demon Slayer: Castelo Infinito chega aos cinemas como uma continuação direta do arco de treinamento dos hashira, prometendo entregar as batalhas finais que os fãs tanto esperavam. Desde os primeiros minutos, fica evidente que a Ufotable não economizou no orçamento – a animação ganha uma dimensão ainda mais impressionante nas telas grandes, consolidando o estilo visual que já conhecemos e amamos da série.
O filme se estrutura em quatro pilares narrativos distintos: as lutas individuais dos protagonistas contra as luas superiores e o trabalho de apoio das crianças que controlam os corvos. É uma abordagem ambiciosa que funciona parcialmente, mas que revela alguns problemas estruturais importantes.
História e Desenvolvimento dos Conflitos
O Castelo Infinito serve como palco para os confrontos decisivos entre caçadores e demônios. A narrativa se desenvolve de forma relativamente linear, intercalando as batalhas principais com momentos de tensão e descoberta sobre a estrutura labiríntica do castelo.
O roteiro opta por uma abordagem expositiva que, por um lado, torna o filme acessível mesmo para quem não acompanhou toda a série (minha namorada conseguiu acompanhar tranquilamente), mas por outro, resulta em um ritmo irregular que prejudica o engajamento nas sequências de ação.
O Problema dos Flashbacks Excessivos
Aqui reside o maior pecado do filme: os flashbacks prolongados que interrompem constantemente o fluxo das lutas. Embora alguns sejam narrativamente justificados – especialmente o do Akaza, que humaniza um antagonista que todos queriam ver derrotado – eles acabam fragmentando a experiência de forma frustrante.
Personagens em Destaque
Shinobu Kocho vs Douma: Poder e Sacrifício
A hashira dos insetos enfrenta o lua superior número dois em uma batalha que estabelece imediatamente o tom do filme. Douma se destaca como um dos antagonistas mais carismáticos, demonstrando por que ocupa sua posição entre os demônios mais poderosos. Infelizmente, Shinobu “não deu nem para o cheiro”, como bem colocado, mas sua luta serve para elevar ainda mais a presença intimidadora de Douma.
Zenitsu vs Kaigaku: Potencial Desperdiçado
Esta é, sem dúvida, a pior parte do filme. Kaigaku passa mais tempo se gabando de suas habilidades do que efetivamente demonstrando-as. A batalha termina de forma anticlimática com apenas um golpe – a belíssima sétima forma da respiração do trovão – mas toda a construção anterior não justifica o payoff.
Tanjiro e Gyu vs Akaza: O Verdadeiro Auge
Aqui o filme atinge seu ponto mais alto. A evolução do Tanjiro como caçador é evidente nos primeiros momentos do confronto, onde consegue se esquivar magistralmente de um ataque mortal de Akaza. No entanto, o filme comete um erro ao regredir o protagonista para um papel mais passivo, repetindo a fórmula de “hashira luta enquanto Tanjiro observa e pensa demais”.
Gyu, o hashira da água, rouba a cena ao revelar suas marcas e participar de sequências de luta absolutamente frenéticas. Sua verdadeira força finalmente vem à tona, criando alguns dos momentos mais emocionantes do filme.

Produção e Aspectos Visuais
Animação de Cinema
A Ufotable entrega um espetáculo visual digno das telas grandes. As sequências de voo dos corvos pelo castelo são particularmente impressionantes, criando um senso de escala e grandiosidade que funciona perfeitamente no formato cinematográfico. Cada técnica de respiração é animada com uma atenção aos detalhes que beira a perfeição.
Design de Personagens e Cenários
O design do Castelo Infinito é visualmente interessante, criando um ambiente labiríntico que serve tanto narrativa quanto visualmente. Os demônios lua superior mantêm seus designs icônicos, com Akaza ganhando particular destaque em suas sequências de flashback.
Trilha Sonora e Atmosfera
A trilha sonora mantém o padrão de qualidade da série, complementando perfeitamente as sequências de ação sem nunca se sobrepor à narrativa visual. Os momentos de tensão são bem pontuados musicalmente, e as lutas ganham uma dimensão épica através da composição sonora.

Pontos Positivos e Negativos
O Que Funciona:
- Animação espetacular que justifica a experiência cinematográfica
- Lutas bem coreografadas com destaque para Gyu vs Akaza
- Acessibilidade para novos espectadores
- Desenvolvimento emocional de Akaza através de flashbacks bem construídos
O Que Não Funciona:
- Duração excessiva com preenchimento desnecessário
- Flashbacks que quebram o ritmo das sequências de ação
- Subutilização do Tanjiro em momentos cruciais
- Luta anticlimática entre Zenitsu e Kaigaku
Conclusão
Demon Slayer: Castelo Infinito é um filme de duas faces. De um lado, oferece algumas das mais belas animações já vistas em produções anime para cinema, com lutas que genuinamente impressionam tanto fãs quanto iniciantes na obra. Do outro, tropeça em decisões editoriais que transformam o que poderia ser uma experiência cinematográfica fluida em algo que parece mais com “uma temporada inteira assistida de uma vez”.
A sensação de estar assistindo a episódios concatenados, em vez de um filme propriamente dito, prejudica significativamente o engajamento. Os múltiplos flashbacks, embora individualmente bem executados, criam uma experiência fragmentada que testa a paciência até mesmo dos fãs mais dedicados.
Para quem é fã da série, o filme entrega os confrontos prometidos, mas não da forma mais satisfatória possível. Para quem terá uma primeira experiência com a obra, pode servir como uma boa introdução ao universo, graças à sua natureza expositiva. No entanto, ambos os públicos sofrerão com o ritmo irregular e a duração excessiva.
Nota: 6 – Um espetáculo visual que poderia ter sido muito mais com melhor edição e estrutura narrativa mais cinematográfica.